quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Fui ao espaço

Vista aérea do Rio de Janeiro à noite. Foto: Fabiane Almeida

A primeira visão que tive foi do vapor frio e branco do ar condicionado serpenteando até o teto. Parecia cenário de uma boa história de terror. Procurei pela minha poltrona e sentei-me junto à pequena janela. Estava bem adiantada, logo havia tempo suficiente para me despedir mentalmente da cidade e relembrar dos momentos que tive. Foram muitos e foram bons.
Do lado de fora, as luzes azuis iluminavam a pista. Mais à frente a bandeira do Brasil dançava com o vento no topo do mastro. Abaixo dela um homem acenava com dois bastões de neon vermelhos, sinalizando para os pilotos do avião que finalizavam o pouso ao lado. Conferir as bagagens de mão, apertar os cintos, ficar atenta aos avisos do piloto e da aeromoça que ensinava os truques de segurança à tripulação. Informações com as quais aos poucos eu me acostumava, os filmes já haviam me ensinado muito sobre elas. Imaginei como seria uma boa história de ação, suspense ou terror nas alturas. Tentei bolar algo, mas somente ideias clichês me vinham à cabeça. Aquele talvez não fosse meu estilo.
A decolagem estava autorizada, as leis da física me obrigaram a ir de encontro ao encosto da poltrona e a sensação de adrenalina que me preenchera no Barco Viking que eu visitara dias atrás fazia-se presente, mas não fora nada aterrorizante. Não perdi um minuto sequer daquele momento.
A alguns quilômetros do chão, a cidade lá embaixo se apresentava pequenina. Era maravilhoso. De repente senti-me no espaço, vendo a Terra lá de cima com suas muitas luzes que mais pareciam constelações. O mar negro era salpicado pelas luzes dos barcos e navios que eu avistava no horizonte da praia, naquele encontro perfeito no dégradé entre o céu e o mar, e que tentava contar em vão. E o fato de a Terra ser esférica, tanto observado através do mar quanto dos ares, fazia naquele momento tanto sentido.
Na minha mente as palavras transavam formando frases e parágrafos de muita paixão, prazer e aventura. Eram novas sensações sendo descobertas, uma nova maneira de ver o mundo. Contraditoriamente, me senti grande, enorme. Pensei nos astronautas vagando pelo universo e me senti um deles. Aquela sensação de história de terror do início já não existia mais, apesar do momento de turbulência, do mar de nuvens em que o avião mergulhava e dos relâmpagos que acendiam em minha janela momentos mais tarde.
Cheguei ao Rio com muito o que contar e aqueles poucos minutos de aventura, adrenalina e admiração estavam inclusos em minhas histórias.


Nenhum comentário:

Postar um comentário