Vista aérea do Rio de Janeiro à noite. Foto: Fabiane Almeida |
A primeira
visão que tive foi do vapor frio e branco do ar condicionado serpenteando até o
teto. Parecia cenário de uma boa história de terror. Procurei pela minha
poltrona e sentei-me junto à pequena janela. Estava bem adiantada, logo havia
tempo suficiente para me despedir mentalmente da cidade e relembrar dos
momentos que tive. Foram muitos e foram bons.
Do lado de
fora, as luzes azuis iluminavam a pista. Mais à frente a bandeira do Brasil
dançava com o vento no topo do mastro. Abaixo dela um homem acenava com dois
bastões de neon vermelhos, sinalizando para os pilotos do avião que finalizavam
o pouso ao lado. Conferir as bagagens de mão, apertar os cintos, ficar atenta
aos avisos do piloto e da aeromoça que ensinava os truques de segurança à
tripulação. Informações com as quais aos poucos eu me acostumava, os filmes já
haviam me ensinado muito sobre elas. Imaginei como seria uma boa história de
ação, suspense ou terror nas alturas. Tentei bolar algo, mas somente ideias
clichês me vinham à cabeça. Aquele talvez não fosse meu estilo.
A decolagem
estava autorizada, as leis da física me obrigaram a ir de encontro ao encosto
da poltrona e a sensação de adrenalina que me preenchera no Barco Viking que eu
visitara dias atrás fazia-se presente, mas não fora nada aterrorizante. Não
perdi um minuto sequer daquele momento.
A alguns
quilômetros do chão, a cidade lá embaixo se apresentava pequenina. Era
maravilhoso. De repente senti-me no espaço, vendo a Terra lá de cima com suas
muitas luzes que mais pareciam constelações. O mar negro era salpicado pelas
luzes dos barcos e navios que eu avistava no horizonte da praia, naquele
encontro perfeito no dégradé entre o céu e o mar, e que tentava contar em vão. E
o fato de a Terra ser esférica, tanto observado através do mar quanto dos ares,
fazia naquele momento tanto sentido.
Na minha
mente as palavras transavam formando frases e parágrafos de muita paixão,
prazer e aventura. Eram novas sensações sendo descobertas, uma nova maneira de
ver o mundo. Contraditoriamente, me senti grande, enorme. Pensei nos
astronautas vagando pelo universo e me senti um deles. Aquela sensação de história
de terror do início já não existia mais, apesar do momento de turbulência, do
mar de nuvens em que o avião mergulhava e dos relâmpagos que acendiam em minha
janela momentos mais tarde.
Cheguei ao
Rio com muito o que contar e aqueles poucos minutos de aventura, adrenalina e
admiração estavam inclusos em minhas histórias.
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